15 maio 2020

Sequência didática Números e acessibilidade


Sequência didática

Números e acessibilidade

Nesta sequência didática, serão abordadas situações que poderão possibilitar uma maior compreensão do sistema de numeração decimal, na medida em que os alunos são desafiados a codificar e decodificar palavras e números por meio do sistema braille.

Os alunos serão apresentados à origem do sistema braille, sua lógica de funcionamento e suas características. Além disso, terão a oportunidade de escrever e ler palavras e números no sistema braille, escritos com o uso de cola plástica.

Esta sequência didática permitirá uma experiência que extrapola os conteúdos tradicionalmente tratados nas aulas de Matemática, pois a atividade promoverá uma reflexão com a turma sobre a diversidade de características físicas das pessoas, reconhecendo a importância da valorização, do acolhimento e do respeito a essas diferenças.

A BNCC na sala de aula

Objeto de conhecimento

Sistema de numeração decimal: características, leitura, escrita e comparação de números naturais e de números racionais representados na forma decimal.

Competência específica

7. Desenvolver e/ou discutir projetos que abordem, sobretudo, questões de urgência social, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários, valorizando a diversidade de opiniões de indivíduos e de grupos sociais, sem preconceitos de qualquer natureza.

Habilidades

(EF06MA01) Comparar, ordenar, ler e escrever números naturais e números racionais cuja representação decimal é finita, fazendo uso da reta numérica.

(EF06MA02) Reconhecer o sistema de numeração decimal, como o que prevaleceu no mundo ocidental, e destacar semelhanças e diferenças com outros sistemas, de modo a sistematizar suas principais características (base, valor posicional e função do zero), utilizando, inclusive, a composição e decomposição de números naturais e números racionais em sua representação decimal.

Objetivo de aprendizagem

Discutir a representação de números naturais utilizando o sistema braille.

Conteúdo

Sistema de numeração decimal.

.Materiais e recursos

Ficha com o alfabeto no sistema braille

Fichas para representação utilizando células braille (em branco).

Cola plástica de qualquer cor.

Desenvolvimento

Quantidade de aulas: 4 aulas.

Aula 1

Iniciar a aula perguntando aos alunos sobre os sistemas de numeração que conhecem ou já estudaram. Conduzir uma conversa de modo que eles retomem algumas características dos sistemas de numeração que se lembrarem – romano, egípcio, babilônico etc. – e, então, questionar sobre como uma pessoa cega poderia realizar a leitura desses números.

Continuar a conversar e questionar os alunos se eles conhecem alguma pessoa cega e se já tiveram algum contato com o sistema braille, seja pela observação da numeração dos andares indicada nos elevadores, ou em placas informativas de algum ambiente, em embalagens etc.

Observar o posicionamento dos alunos quanto ao tema e discutir com eles sobre o uso dos termos cego e pessoa com deficiência visual para se referir às pessoas que não enxergam, pois todo cego tem deficiência visual, mas nem toda pessoa com deficiência visual é cega.

Durante essa conversa inicial, observar se os alunos participam das interações orais e ouvem com respeito as contribuições dos colegas, esperando os turnos de fala de cada um.

Aproveitar as experiências relatadas pelos alunos para promover uma reflexão sobre a diversidade de características pessoais, reconhecendo a importância da valorização, do acolhimento e do respeito a essas diferenças.

Fazer uma leitura compartilhada de um texto que julgar adequado e que trate do assunto sobre inclusão para continuar a conversa e falar sobre a origem do sistema braille. A seguir, há algumas sugestões de materiais que podem ser consultados.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Grafia Braille para a Língua Portuguesa. Elaboração: Cerqueira, Jonir Bechara... [et al.]. Secretaria de Educação Especial. Brasília: SEESP, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/grafiaport.pdf>. Acesso em: 29 jun. 2018.

BRASIL. Manual de comunicação da Secom. Linguagem inclusiva. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/redacao-e-estilo/estilo/linguagem-inclusiva>. Acesso em: 4 jul. 2018.

NOVA ESCOLA. O que é deficiência visual? Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/270/deficiencia-visual-inclusao>. Acesso em: 4 jul. 2018.

Depois da leitura compartilhada do texto selecionado e de conversar sobre a origem do sistema braille, informar aos alunos que nas próximas aulas eles vão realizar uma atividade para representar números naturais no sistema braille.

Explicar como serão realizadas as aulas, explicitando os objetivos e os conteúdos que serão abordados nelas.

Distribuir uma cópia do alfabeto a seguir a cada um dos alunos e explicar que, embora o objetivo da atividade seja explorar o sistema de numeração, o estudo começará por meio da compreensão do alfabeto braille, pois para o sistema numérico será utilizada a mesma estrutura.

???

Elaborado pelo autor.

Alfabeto no sistema braille.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Grafia Braille para a Língua Portuguesa / elaboração: Cerqueira, Jonir Bechara... [et al.]. Secretaria de Educação Especial. Brasília: SEESP, 2006, p. 23. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/grafiaport.pdf>. Acesso em: 29 jun. 2018.

Quando todos os alunos estiverem com o alfabeto em mãos, explicar a estrutura básica do sistema braille, que é formado pelas celas ou células braille, composta de seis círculos ordenados em duas colunas e três linhas. Para registrar um caractere, cada círculo maior representa uma marcação em relevo, enquanto os círculos menores representam espaços vazios (sem relevo).

Distribuir aos alunos uma ficha como a indicada a seguir e pedir a eles que representem a palavra escola, utilizando cola plástica para construir o relevo. No final desta sequência didática há uma Ficha para representação utilizando células braille que poderá ser reproduzida e entregue aos alunos para desenvolverem as atividades.

As células braille devem ser preenchidas, inicialmente, à lápis e depois com cola plástica, para que seja obtido o relevo.

Estipular um tempo, em torno de 10 minutos, para que os alunos representem a palavra nas células braille da ficha. Caso algum aluno apresente dificuldade na associação de cada uma das letras do alfabeto com as letras da palavra escola, ou em outro aspecto, procurar auxiliá-lo em suas dúvidas.

Para finalizar, pedir aos alunos que, em casa como tarefa, escrevam outra palavra em braille – utilizando o mesmo processo feito para a palavra escola e, tragam para a próxima aula, já com a cola seca.

Aula 2

Iniciar a aula perguntando para a turma o que acharam da experiência de escrita e leitura da palavra escola no sistema braille, realizada na aula anterior, e que gostariam de comentar.

Observar se os alunos participam das interações orais e ouvem com respeito as contribuições dos colegas, esperando os turnos de fala de cada um.

Retomar a tarefa de casa e solicitar aos alunos que façam um exercício individual, que consiste em fechar os olhos e percorrer com os dedos indicador e médio a palavra escola, representada na ficha, em silêncio e com os olhos fechados. Depois, pedir que troquem com um colega a palavra representada em braille para que um faça a leitura tátil da palavra escrita pelo outro.

Informar aos alunos que nesta aula eles vão estudar como escrever os números em braille e que, para isso, deverão utilizar o alfabeto, distribuído na aula anterior.

Quando todos os alunos estiverem com o alfabeto em mãos, informá-los de que a representação do sistema numérico tem a seguinte disposição: o algarismo 1é representado pela mesma célula que representa a letra a, o algarismo 2 equivale à célula que representa a letra b, e assim sucessivamente, até o 9, que é representado pela mesma célula da letra i. A cela que representa a letra j corresponde ao zero.

Pedir aos alunos que escrevam à caneta, no próprio alfabeto já recebido por eles, os algarismos correspondentes às letras em braille.

???

Elaborado pelo autor.

Exemplo de marcação sobre o alfabeto com as informações do sistema numérico.

Quando os alunos reconhecerem que a representação dos algarismos coincide com a representação de algumas letras, pode ser que questionem sobre a identificação de uma palavra e de um número, já que ambos utilizam as mesmas marcações. Sobre isso, explicar que, para diferenciar um número de uma palavra, há uma célula que sempre precede os números:

???

Elaborado pelo autor.

Cela que precede os números.

Como a leitura no sistema braille é sempre da esquerda para a direita, sabe-se que as celas representarão algarismos quando precedidas por este símbolo.

Solicitar aos alunos que representem três números que possuam quantidades diferentes de algarismos, por exemplo: 26, 138 e 2 459. Para isso, devem usar cola plástica, a fim de construir o relevo e, para facilitar, podem utilizar a Ficha para representação utilizando células braille.

???

Elaborado pelo autor.

Representação em braille dos números 26, 138 e 2 459, respectivamente.

As células braille devem ser preenchidas inicialmente à lápis e posteriormente com cola plástica, para que seja criado o relevo.

Lembrar os alunos de que os números devem ser precedidos pelo símbolo que indica para o leitor o uso de algarismos.

É importante destacar que esta sequência didática pode proporcionar um maior entendimento do aluno acerca do sistema de numeração decimal, mas também se torna um importante momento para a reflexão sobre as condições em que muitos indivíduos se encontram, em especial os cegos.

Desta forma, os alunos têm a oportunidade de conhecer mais um tipo de linguagem, respeitando a diversidade e solidarizando-se com os outros.

Pedir aos alunos que representem, como tarefa de casa, os 10 algarismos do sistema de numeração decimal precedidos pelo símbolo ???, que indica a representação de um número em braille. Disponibilizar as fichas com as células braille em branco para que essas representações fiquem padronizadas e orientar que as façam com cola. Explicar aos alunos que é importante que eles façam as representações em casa e tragam para a próxima aula com a cola já seca e, assim, seja possível desenvolverem as atividades das próximas aulas.

Aulas 3 e 4

Organizar a turma em grupos de 4 alunos. Inicialmente, pedir aos integrantes do grupo que confiram os algarismos que os demais colegas do grupo representaram em braille. É importante verificar se nenhum grupo ficou com dúvida em relação a alguma representação.

Depois que os algarismos forem conferidos, pedir que organizem os grupos formando duas equipes, A e B, para adivinharem os números escritos pela outra equipe. Utilizando os algarismos em braille que representaram em casa, um aluno da equipe A – o escriba – deve compor um número de 4 algarismos; um aluno da equipe B – o leitor –, de olhos vendados, deve fazer a leitura do número. Em seguida, esse aluno deverá dar dicas aos demais a fim de que adivinhem qual foi o número representado pelo aluno escriba. O aluno que for escriba na rodada, naturalmente, não participa da adivinha, mas deverá verificar se as dicas dadas pelo aluno leitor estão corretas. Ganha a rodada a equipe do aluno que primeiro adivinhar o número registrado. Os alunos devem trocar, a cada rodada, as funções entre si e realizar diversas rodadas. Ganhará a brincadeira a equipe que, ao final do tempo estabelecido, ganhar mais rodadas.

Para dar as dicas o aluno leitor não poderá falar sobre os algarismos em si, mas pode fornecer informações envolvendo a decomposição e a comparação com outros números. Por exemplo, se o número corresponde a 4 876, poderá dizer:

É composto de quatro unidades de milhar.

Possui seis unidades.

É maior que 4 700.

É menor que 4 900.

Está entre 4 800 e 4 890.

É menor que 4 880.

É maior que 4 870.

Caso seja necessário algum grupo ser formado por 5 integrantes, um deles pode fazer o papel de juiz, verificando o registro do aluno escriba e se as dicas do aluno leitor estão corretas.

Reservar ao menos 20 minutos do final dessas aulas para pedir aos alunos que escrevam um pequeno texto sobre a brincadeira, explicando como ela funciona, as regras, as dificuldades e, ainda, pedir a eles que reformulem ou aprimorem as regras da brincadeira para que fique mais divertida ou desafiadora. Eles poderão sugerir, por exemplo, que não sejam permitidas dicas como “o número é composto de quatro unidades de milhar e oito centenas”, ou que as dicas não possam ser todas referentes ao valor relativo dos algarismos.

Para trabalhar dúvidas

Caso algum aluno apresente dificuldade na compreensão da estrutura do sistema braille, ou em outro aspecto, procurar auxiliá-lo em suas dúvidas. Caso o aluno não consiga representar um número no sistema braille, verificar primeiramente se ele compreende a decomposição desse número representado no sistema decimal.

Avaliação

Observar se os alunos identificam os elementos necessários para a utilização do sistema braille e a lógica de seu funcionamento.

Verificar se os alunos reconhecem os símbolos que compõem a palavra escola, propostos na aula 1, por meio do alfabeto no sistema braille.

Verificar se o aluno compreendeu a representação numérica e se consegue distinguir a escrita dos números e das palavras no sistema braille.

Para verificar a aprendizagem em relação ao sistema de numeração decimal, contribuindo para o desenvolvimento da brincadeira sugerida nas aulas 3 e 4, proponha algumas atividades como as indicadas a seguir.

1. Liste ao menos três números correspondentes a cada item a seguir.

a) Maior do que 14 785 e menor do que 14 799.

Há várias possibilidades, por exemplo, 14 786, 14 787, 14 788.

b) Maior do que 18 999 e menor do que 20 000.

Há várias possibilidades, por exemplo, 19 000, 19 001, 19 999.

c) Maior do que 899 e menor do que 1 090.

Há várias possibilidades, por exemplo, 900, 950, 1 089.

d) Entre 900 e 1 900.

Há várias possibilidades, por exemplo, 901, 950, 1 899.

2. Leia e analise as afirmações a seguir e, depois, assinale V para as que forem verdadeiras e F para as que forem falsas.

( ) O número 1 999 está entre 1 000 e 2 000.

( ) Um número cuja maior ordem é a dos milhares; pode ser maior que 10 000.

( ) Um número cuja maior ordem é a dos milhares; pode ser igual a 10 000.

( ) Uma decomposição para quinze mil e quatrocentos pode ser 10 000 + 5 000 + 400.

V; F; F; V

3. Quantos números cuja ordem das unidades é composta do algarismo 7 há entre 1 000 e 1 100? E entre 9 000 e 9 999?

Entre 1 000 e 1 100 há 10 números cuja unidade é composta do algarismo 7. Entre 9 000 e 9 999 há 100 números cuja unidade é composta do algarismo 7.

Ampliação

O contexto e o objetivo desta sequência didática abrem espaço para a realização de outras atividades, experiências e discussões sobre a cegueira e outras deficiências, como sair de um ponto A até um ponto B da sala de aula ou em um ambiente seguro e controlado, com os olhos vendados, segurando nas mãos de um colega. Outra atividade poderia ser: pedir aos alunos que escrevam o primeiro nome e a idade (ou número da chamada) em uma ficha utilizando o sistema braille, embaralhar as fichas e redistribuí-las aleatoriamente, a fim de desafiar os alunos a descobrirem de quem seria a ficha e a idade da pessoa.

Após a brincadeira proposta nas aulas 3 e 4, é possível pedir aos alunos que indiquem os números que foram explorados nas rodadas, por meio da escrita em braille, na reta numérica.

Ficha para representação utilizando células braille

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Elaborado pelo autor.

Fonte: PNLD

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